terça-feira, 6 de março de 2012

A Fruta e o Menino


                                                   

                Menino debaixo do pé de fruta, olhando desejosamente para um galho no qual se encontrava a mais bela entre todas. Se impunha vermelha na sombra, parcialmente oculta pela folhagem, despertando o desejo não apenas de matar sua fome, mas de pegá-la, observá-la, saboreá-la com os olhos, acariciá-la,sentir o cheiro, o toque na mão. Ali estava o menino desejando o inalcançável, depois de uma tarde cansativa de criança.
                Cogitou derrubá-la lançando algum objeto, mas temeu acertá-la em cheio e precipitá-la contra o chão, destruindo em fração de segundos o que a natureza havia levado anos para construir, pois, pensava ele, aquela era a fruta que a árvore havia por anos de esforço finalmente criado; a Fruta Perfeita. Não merecia ser destruída de uma maneira tão rude e rápida.
                Esticava os braços, como que tentando alcançar com as próprias mãos. No fundo ele sabia que sua altura não permitia, e a distancia do galho o fazia ver que não conseguiria simplesmente pegar. Esticava os braços, como se o seu esforço e desejo criassem mãos invisíveis, acariciando a fruta para depois pegá-la e traze-la para mais perto de seu desejo, de seu egoísmo. Baixou os braços, e se contentou apenas em olhar. O modo como o sol dançava entre as folhas e tocava de forma tênue a casca vermelha, fazendo desenhos brilhantes na fruta que teimava em manter sua indiferença com relação ao menino.
                Estava tarde. O menino se deixara tragar pelo desejo do impossível e esquecera de voltar para casa. Passara horas observando o objeto inalcançável de seu desejo, seu egoísmo mais instintivo, ainda não descoberto por sua mente infantil.
                Então a fruta, com todo seu orgulho, como se respondesse ao breve deslize de atenção do menino, cede ao balanço do galho ao vento e cai, despedaçando-se diante de seus pés. Estava podre. O menino sorri, vira as costas e vai embora.

[Bones]