Menino debaixo do
pé de fruta, olhando desejosamente para um galho no qual se encontrava a mais
bela entre todas. Se impunha vermelha na sombra, parcialmente oculta pela
folhagem, despertando o desejo não apenas de matar sua fome, mas de pegá-la,
observá-la, saboreá-la com os olhos, acariciá-la,sentir o cheiro, o toque na
mão. Ali estava o menino desejando o inalcançável, depois de uma tarde
cansativa de criança.
Cogitou derrubá-la
lançando algum objeto, mas temeu acertá-la em cheio e precipitá-la contra o
chão, destruindo em fração de segundos o que a natureza havia levado anos para
construir, pois, pensava ele, aquela era a fruta que a árvore havia por anos de
esforço finalmente criado; a Fruta Perfeita. Não merecia ser destruída de uma
maneira tão rude e rápida.
Esticava os braços,
como que tentando alcançar com as próprias mãos. No fundo ele sabia que sua
altura não permitia, e a distancia do galho o fazia ver que não conseguiria
simplesmente pegar. Esticava os braços, como se o seu esforço e desejo criassem
mãos invisíveis, acariciando a fruta para depois pegá-la e traze-la para mais
perto de seu desejo, de seu egoísmo. Baixou os braços, e
se contentou apenas em olhar. O modo como o sol dançava entre as folhas e
tocava de forma tênue a casca vermelha, fazendo desenhos brilhantes na fruta
que teimava em manter sua indiferença com relação ao menino.
Estava tarde. O
menino se deixara tragar pelo desejo do impossível e esquecera de voltar para
casa. Passara horas observando o objeto inalcançável de seu desejo, seu egoísmo
mais instintivo, ainda não descoberto por sua mente infantil.
Então a fruta, com
todo seu orgulho, como se respondesse ao breve deslize de atenção do menino,
cede ao balanço do galho ao vento e cai, despedaçando-se diante de seus pés.
Estava podre. O menino sorri, vira as costas e vai embora.
[Bones]
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